Xerazade - A Última Noite leva-nos aos meandros de uma fascinante tapeçaria narrativa, onde podemos encontrar referências díspares, quer de mitos clássicos ou pré-clássicos, quer ainda de histórias de encantar, juntamente com «memórias» soltas como «um colar de pérolas» desatadas, que a narradora, Xerazade, tenta reconstruir para confortar o amante que, inconformado, se recusa a deixá-la ir embora.
Excerto:
«Trocámos tantas vezes de corpos, que já não sei quem é quem e em qual das vezes, nestas histórias que tanto gostas de ouvir. Para ti, são lendas que invento na madrugada de noites insones para te confortar na hora da partida. No fundo, nada disso importa, porque no incêndio da paixão que nos devorou e nos devora, tantas vezes que nem as lembro a todas, mãos, braços e abraços, pernas, colo, olhos e bocas e sexos, tudo se fundia e confunde num corpo só. Nessa altura, acordavas e recordavas. E por breves instantes de alegria e êxtase, chorávamos a dor antecipada do olvido e tu pedias-me: — Não me deixes nunca.»