No momento da morte, diz-se, passam na nossa mente, em sucessão instantânea, pessoas, lugares, pedaços da existência, num rebobinar de um filme que se extingue. Neste livro, em processo semelhante, mil vozes se erguem, fantasmas adormecidos despertam, memórias há muito esquecidas retomam brilho e cor, quando presente e passado se confundem, e uma semana vale uma vida. Olhos que se vêem a si mesmos, e nessa peregrinação interior procuram descobrir o nexo, o sentido de uma existência em que o passado caminha ao lado do presente, numa conversa cúmplice de quem se conhece bem. No final do dia, o médico pede ao leitor que lhe devolva o que ele deu aos seus doentes: um ouvido para ouvir, um coração a partilhar, uma mente que tente compreender. Nesse processo, troca de lugar, põe-se do outro lado da secretária, mergulha dentro de si, desarruma as memórias e, tal como os doentes de quem cuida, abre o jogo e mostra quem é e de onde vem.