«Um livro feito com o ritmo dos tempos da natureza, que aqui e ali serve aliás de porta de entrada para as reflexões profundas que muitas vezes começam por coisas simples como a descrição da cor de um figo, do canto de um rouxinol, do coaxar de uma rã, e terminam numa frase de Chesterton ou num poema de Leopardi. As descrições das cores dos alimentos e das paisagens aproximam-nos muito da paleta e da técnica dos pintores impressionistas.», Rui Lagartinho, «Público»
Josep Pla percorre a Catalunha de autocarro. Vai de aldeia em aldeia, numa geografia rural onde a paisagem se impõe como motor para reflexões, divagações e devaneios. É uma viagem pessoalíssima, onde uma conversa aparentemente banal se transforma numa reflexão sobre a condição humana. As intuições de Josep Pla são sempre extraordinariamente agudas, e é esse um dos encantos deste livro.
O que faz actualíssima esta «Viagem de Autocarro» é a escrita de Pla: de uma clareza sem um pingo de superficialidade, sempre temperada pelo sal da ironia, por vezes tocada por uma ligeira amargura que nunca se confunde com rancor.
Josep Pla tinha a obsessão do adjectivo certo, e o rigor com que descreve paisagens e pessoas corresponde à capacidade rural de nomear com exactidão cada árvore, cada planta, cada elemento da natureza. Saber sempre a palavra exacta para cada coisa é um poderoso meio de transporte. É nele que Pla nos conduz ao território a que chamamos literatura.