A cena passou-se na primavera de um dos primeiros anos do século XXI, para ser mais preciso por volta de 2010. Estava um sol esplêndido em Lisboa, e o mês era o de Maio. O dia, um sábado.
Era cerca de meio-dia e um quarto. Robert Murphy desceu os quatro andares de escadas, do prédio onde morava, no Bairro das Colónias em Lisboa. Abriu a porta da rua, aprestava-se para sair para ao ar livre, quando, diante de si, viu alguém de o interpelava:
“ – Sr.Detective… Que bela surpresa…”
Anos depois, a única coisa que Murphy recordaria daquele primeiro encontro foi a angústia que transparecia no rosto do homem que falara. Tanta angústia, que mesmo a um sábado em que planeara ir ao cinema, o detective parou, respondeu e preparou-se para ouvir:
“ – Sim. Sou eu. E o Senhor?”
“ – Mendes, Pedro Mendes. Advogado.”
Era uma pessoa dos seus quarenta e cinco anos, moreno, de barba, óculos. Baixo e corpulento. E com um ar sofrido, parecia um missionário. Vestia-se de preto, o que acentuava a severidade de tudo o que fazia e dizia, sobretudo num dia cheio e vida e cor como aquele. Murphy viu-se constrangido a perguntar:
“ – Precisa de mim?”
Pedro Mendes respondeu com uma pergunta, algo a que Murphy se viria a habituar nos próximos dias, e que interpretou como sinal de inteligência, delicadeza, e também de novo, de angústia:
“ – Tem tempo para mim?