Naquela noite fria de Dezembro, Miguel assistia no Estádio da Luz aos últimos momentos de um encontro de futebol. Ao mesmo tempo, o seu superior hierárquico, o engenheiro Pedro Nobre, encontrava-se na empresa a vasculhar o seu computador pessoal, procurando um correio electrónico que, inadvertidamente, lhe fora endereçado por um colaborador de um grande empresário português e cujo conteúdo, caso fosse divulgado, poderia comprometê-lo, significativamente, na sua área de actividade. Na verdade, Joaquim Carvalho vivia um período demasiado conturbado, consequência das contingências económicas que o país e o seu próprio grupo económico atravessavam. Com fortes constrangimentos financeiros e sem a possibilidade de, a curto prazo, conseguir o financiamento de que necessitava na banca portuguesa. O empresário carecia com alguma premência de atrair um sócio internacional que lhe permitisse abandonar aquele beco, notoriamente com trilhos demasiado limitados em que se encontrava. Era, portanto, neste cenário pouco luminoso que, muito em breve, a negociação com esse investidor angolano ocorreria. Isso, naturalmente, se Pedro Nobre conseguisse eliminar aquele documento demasiado comprometedor. No entanto, e de acordo com as suas fontes, os primeiros indícios indiciavam alguma dificuldade na concretização desta tarefa. Joaquim Carvalho tinha perfeita noção que, se esta informação chegasse a alguém envolvido naquelas negociações, o resultado final poderia ser calamitoso.