Um velho numa maca de hospital rebobina a vida, lembrando muito do que passou e questionando o que verdadeiramente subsiste desta passagem efémera. A obra, escrita em 2007, resulta de uma psicanálise retardada a uma relação que o escritor - na altura psicólogo clínico - manteve com um moribundo votado a uma maca de hospital: um velho agreste e violento, inveterado apalpador de rabos de enfermeiras, embora ao mesmo tempo filosófico e senhor de desafiantes derivas mentais. É uma obra catártica que Urbano Tavares Rodrigues não hesitou em classificar de “mergulho nas vísceras do ser humano”, por questionar, de uma forma quase cortante e não raro no fio da navalha, o que andamos afinal nós todos aqui a fazer, o que vale verdadeiramente a pena e o que não vale coisa absolutamente nenhuma. São novos horizontes que se abrem sobre o remorso humano, o desejo ardente que envelhece e as aspirações dolorosamente não concretizadas da existência humana.