"[...] o conjunto das traduções de Eugénio de Andrade abrange quatro títulos, reeditados ao longo dos anos com pequenas alterações, e assume uma importância fundamental para compreendermos o poeta e o seu ofício, além de, evidentemente, nos proporcionar um contacto privilegiado com os poetas que traduz. Mesmo com a tradução das cinco Cartas Portuguesas, de Mariana Alcoforado, conquanto de prosa se trate, revela para aspectos que se prendem com a poesia de Eugénio. Seguindo as suas indicações, talvez devamos preferir ao termo «tradução» o de «recriação poética», que a esse propósito figura na bibliografia eugeniana, ou ainda, pegando-lhe na palavra, «na melhor hipótese uma aproximação [que] nunca mais acaba», sem esquecer que o próprio Eugénio de Andrade exprimia uma funda nostalgia de uma correspondência absoluta, afinal impossível, entre versão traduzida e versão original, quando falava nessa «espécie de transfusão de sangue perdida, que é sempre o trabalho do tradutor.» Mas é de registar que ele entendia que alguma «infidelidade» tradutória podia alcançar um nível superior de fidelidade, de correspondência ao pensamento poético e às intenções expressivas do autor traduzido.[...] - Vasco Graça Moura