O trabalho africano foi decisivo na construção do mundo moderno. Antes de mais, através da exportação de escravos para a América, onde cerca de dez milhões de migrantes involuntários transformaram um continente quase despovoado na periferia mais rica das redes europeias de poder e comércio.
Estas sociedades escravocratas da América não juntaram apenas um Novo Mundo aos interesses europeus – foi através delas que se instalou o próprio modo capitalista de produzir. Deste modo, é fácil compreender a importância que desde há décadas o estudo do tráfico de escravos suscita no mundo académico, com incidência especial nas escolas norte-americanas e da América do Sul.
Mas, se a escravatura africana teve esse peso histórico tão grande e foi abolida em meados do século XIX, o que aconteceu em seguida a um sistema que já então tinha tomado uma dimensão planetária? Como se alterou a divisão mundial do trabalho entretanto instituída? De que forma nela participaram as regiões africanas, agora obrigatoriamente reconvertidas? Em que consistiram os sistemas coloniais europeus em África e o que tiveram em comum? A época do trabalho africano juridicamente livre mas enquadrada pelas administrações europeias tem neste momento muito mais perguntas do que respostas.
É para observar o continuum histórico do trabalho africano na época moderna, única forma de o perspectivarmos historicamente e, ao mesmo tempo, para tentar clarificar conceitos que um conjunto de investigadores se vem reunindo periodicamente. Um balanço sobre o estado das pesquisas relativamente ao “trabalho forçado” é agora aqui apresentado.