A experiência juntava dois grupos de pessoas: as primeiras tinham acabado de comer, as outras estavam em jejum. Tinham de ler palavras em rápida sucessão. Os resultados foram quase iguais. A não ser num ponto. Sempre que as palavras tinham a ver com comida, quem estava em jejum conseguia melhor pontuação.
A escassez aumentou a capacidade de foco dos participantes com fome (no que diz respeito ao bem em falta) sem lhes prejudicar outras faculdades. Mas o jejum era apenas temporário. Porque quando as privações são prolongadas, a escassez apodera-se da mente. E o resultado pode ser catastrófico. O bem em falta ganha uma importância desproporcionada. Se temos pouco dinheiro, só pensamos nas contas por pagar, afunilamos a perspetiva. Deixamos de conseguir planear a prazo, perdemos imaginação e autocontrolo. As nossas capacidades cognitivas são abaladas a ponto de se refletirem negativamente nos testes de QI. E a vida (ou parte importante dela) passa-nos ao lado, tal como as oportunidades. Os pobres ficam mais pobres e geram filhos pobres. O princípio aplica-se também às empresas, organizações e culturas.
“A Tirania da Escassez analisa a nossa reacção instintiva aos efeitos que a privação e a austeridade provocam no cérebro – o que por si só torna o livro uma leitura essencial para toda a classe política.” The Guardian