Aboubakr Jamai, Artur Santos Silva, Brigitte L. Nacos, Bruno S. Frey, Christine Ockrent, Daniel Benjamin, Daniel Sibony, Emílio Rui Vilar, Farhad Khosrokhavar, Fernando Gil, Florence Taubmann, Gareth Evans, Jorge Sampaio, Magnus Ranstorp, Mark Juergensmeyer, Monique Canto-Sperber, Paul Wilkinson, Richard Falkenrath, Rui Pereira, Sergio Marchisio, Simon Luechinger, Stefan Oeter, Teresa Gouveia e Yonah Alexander
O terrorismo deixou de ser regional para se internacionalizar, e é hoje ideológico e não simplesmente nacionalista. Do mesmo modo, não toma para adversário países determinados, mas um modo de viver e pensar que por comodidade poderemos chamar ocidental. Possuindo ele próprio uma dimensão quase-planetária, o seu impacte é igualmente internacional. E, citando o ex-comissário europeu António Vitorino, este novo terrorismo veio para ficar - tornou-se uma constante geopolítica do presente e do futuro tanto quanto é possível imaginá-lo. Tal é a perspectiva em que se coloca a nossa conferência.
Esta inicia-se por uma análise dos itinerários terroristas. As biografias dos protagonistas e as redes que formam, de natureza assaz diversa, são diferentes do estilo de organização dos terrorismos tradicionais. Por outro lado, a simples ameaça terrorista obriga a uma vigilância permanente: não é fácil prever onde, quando e como uma operação terrorista pode surgir; evitar um único acto levado a efeito por um pequeno número de terroristas requer uma actividade de defesa altamente dispendiosa em recursos humanos e materiais. Esta assimetria multímoda entre o terrorismo e os meios de protecção faz com que os custos do combate antiterrorista se tenham multiplicado e que, tal como o terrorismo, também a acção antiterrorista se tenha internacionalizado.
A internacionalização do terrorismo comporta variados aspectos, dos quais retivemos dois. Como tem sido frequentemente observado, o terrorismo combina uma utilização «moderna» dos media com a difusão de ideologias pré-modernas; e, à sua maneira, inscreve-se no movimento de globalização que arrasta as sociedades contemporâneas, ao mesmo tempo que a ele se opõe ideologicamente. O terrorismo conduz ainda a difíceis revisões do direito internacional e das legislações nacionais em matéria de direitos humanos.
A última sessão versa sobre religião e civilização. Nas suas vertentes extremas - e as mais activas - o terrorismo contemporâneo erige-se contra determinados sistemas de valores em nome de outros valores, com base na religião. É talvez este o seu elemento decisivo, que faz do terrorismo um foco de atracção e de repulsa. Sem comprometimentos ideológicos, a conferência propõe-se examinar as motivações e as implicações civilizacionais do terrorismo.
Fernando Gil
Comissário da Conferência