Um frade homossexual é queimado às ordens do Tribunal da Inquisição, condenado por breves amores de juventude na universitária Salamanca dos fins do século XVI. Através de personagens reais, perseguidos pela Inquisição, é passado em revista o ambiente sufocante do país nos anos vinte do século XVII, tomando como paradigma várias vilas e aldeias do planalto mirandês, habitadas por importantes comunidades de cristãos-novos que atravessam a fronteira conforme de onde se acendem os fogos da Inquisição. Aí, o ambiente de denúncia, a ameaça de prisão, a dissolução de costumes do clero, as perseguições permanentes, tornam o amor numa utopia e as relações entre pessoas num inferno, deixando marcas profundas que se prolongam até aos nossos dias.
A língua aparece como um modo de curar, mas também como castigo, quase uma maldição, pressentindo-se as dificuldades no confronto das línguas presentes: o português, o castelhano e o leonês/mirandês.
Três séculos depois, um professor primário resgata um manuscrito onde aquele frade tentou escrever, na prisão, um tratado das artes de curar pela fala, fazendo comentários relativos à sua prática e continuando a questionar-se sobre o sentido da vida e o problema de Deus.
De modo sereno e inovador são abordadas questões que sempre preocuparam o homem, como o amor e o sexo, o bem e o mal, a liberdade, a religião, o viver em comunidade, através de uma época de fundamentalismos, de que ainda não nos livrámos e que não podemos esquecer.