Em 1961 tomou uma decisão que mudaria para sempre a sua vida: ofereceu-se como voluntário para a guerra em Angola. Começava assim a construção do mito em torno de António de Spínola. Uma imagem que se fortaleceu na Guiné, onde desempenhou os cargos de governador-geral e de comandante-chefe. O homem que uns meses antes agitou o país com a publicação de Portugal e o Futuro, onde defendia que o problema colonial português não teria uma solução militar. A sua passagem pela vida política revestiu-se de aspectos dramáticos e foi uma decepção, quer para os seus opositores, quer para alguns dos seus apoiantes e seguidores, que nele depositaram fortes esperanças num momento-chave da História portuguesa. O certo é que, entre 25 de Abril de 1974 e 11 de Março de 1975, a «glória» cedeu lugar ao «drama» na vida de António de Spínola. Uma série de passos em falso levaram o «general do monóculo» da Presidência da República ao exílio no Brasil, de símbolo da esperança nascida em Abril de 1974, a líder de um movimento clandestino que, a partir do estrangeiro, visava alterar pela força o regime político vigente. Regressou a Portugal em Agosto de 1976, recebendo ordem de prisão ainda no aeroporto. Reintegrado posteriormente nas Forças Armadas, António de Spínola foi nomeado marechal e, mais tarde, recebeu a Grã Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito. Quando morreu em 1996, com 86 anos, Spínola era um homem que ainda não se tinha reconciliado com o seu pais, nem esquecido ou perdoado erros cometidos no passado.