«Via-se ante um mar imenso e azul, sepultando fés, sacrificando homens, interpondo distâncias. "Sonhos Submersos" e não saberia por que lhe ocorrera semelhante frase.»
António Pinto Correia descreve como se fosse ficção a densa especificidade da experiência pessoal de uma mulher que conheceu a paixão e o desamor, acompanhando-a na dormência e nos despertares do sonho. Baseado numa história verídica, "Sonhos Submersos" é um romance invadido pelo oceano de memórias de Soledade, emigrante portuguesa na Venezuela que retorna ao seu país de origem e a uma vida de pobreza e solidão, pela mão do único homem que amou. A narrativa privilegia o espaço interior, a mente da protagonista, que se desdobra em visões. O sonho, a desolação, a busca de ânimo, a exaustão, a suspensão do tempo, a sensação intensa de fim, a sobrevivência e a morte, são-nos oferecidos através da expressão intensa da emoção de quem tem fé em Deus mas conclui que os homens são bichos da terra. Deus escreve direito por linhas tortas ou Deus algum cometeria esse pecado? Soledade poderia ser um personagem do absurdo camusiano.
Em "Sonhos Submersos", a vida interior é transformada em linguagem interior, tautológica, dominada pela nostalgia e pela contenção da angústia. Escutamos o silêncio que emerge, em paralelo, da coreografia e da geografia dos corpos. Em cada frase-gesto, encontramos as marcas de uma vida de submissão, impotência e isolamento. A. Pinto Correia resgata Soledade ao seu silêncio através deste exercício de escrita. E convida-nos a escutá-la, a fazer justiça pelo acto de leitura.