Na leitura deste texto e na sua procura dos significados de um património construído, o do solar do Morgado da Alagoa, ecoam as palavras de Françoise Choay quando, ao debruçar-se sobre o vocábulo Património, escreve: “Esta bela e muito antiga palavra estava, na origem, ligada às estruturas familiares, económicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no espaço e no tempo. Requalificada por diversos adjectivos (genético, natural, histórico...), que fizeram dela um conceito nómada, prossegue hoje em dia um percurso diferente e notório.” Ora, é neste duplo campo conceptual que se constrói a análise de Mário Lisboa. O autor desoculta um espaço patrimonial, símbolo como escreve do passado, de um grupo familiar, os Cruzes, do seu lugar e afirmação social, e a presença num presente de um imóvel que permanece isolado da malha urbana, mas que se impõe pela sua sobrevivência, clara herança prevalecente de um tempo.