Mais interessante é o caso em que sabemos ter à nossa frente um espelho deformante, como sucede nos parques de diversões. A nossa atitude torna-se então dúplice: por um lado divertimo-nos, ou seja, gozamos as características alucinatórias do canal.
Decidimos então aceitar (ludicamente) ter três olhos, ou uma grande pança, ou as pernas curtíssimas, tal como se aceita uma fábula. Na realidade, colocamo-nos numa espécie de férias pragmáticas: aceitamos que os espelhos, que por regra devem dizer a verdade, não a digam. Mas a nossa suspensão da incredulidade não se refere tanto à imagem, quanto à virtude da prótese deformante.
O jogo é complexo: por um lado comporto-me como se me encontrasse diante de um espelho plano, que diz a verdade e acho que ele me reenvia uma imagem “irreal” (daquilo que eu não sou). Se tomo a imagem por boa, ajudo por assim dizer o espelho a mentir. O prazer que experimento neste jogo não é da ordem estritamente semiósica, é de ordem estética.