«Será preciso chegar a autora de Sob Céus Estranhos para nos dar, a propósito do tema da adaptação de um imigrado judeu, o mais perfeito retrato da cidade do Porto dos anos 40 (para não dizer o único retrato), que continua a estar certo para a cidade do Porto dos anos 60, como talvez venha a estar para a dos anos 80, ou mesmo mais.
Porém, a personagem que a autora nos apresenta - Josef Berger - vai-se adaptando à vida portuguesa. A pouco e pouco deixa-se invadir pela frouxidão, pelo ritmo não-europeu que a caracteriza. Interessa-se pela nossa literatura e chega a pensar fazer-se editor. Dir-se-ia entrar, entretanto, nas calhas do ramerrão do mundo lusitano de viver, o ramerrão que explica o desabafo do velho Lindomonte que exclama, ao tomar a decisão de partir para o Brasil: "Já basta de tanta pasmaceira!".
Tal temática conduz-nos a afirmar que Ilse Losa conseguia não se repetir, perigo que aliás vive espreitando-a. Todavia, a autora contorno-o com talento suficiente para podermos considerar Sob Céus Estranhos um livro novo na sua bibliografia e, sem qualquer exagero, um belo livro. Beleza que não é aparente dos estilos laboriosos, engalanados de ver a Deus, mas a que resulta de uma linguagem simples, linear, discretamente poética, façanha sempre singular quando brota de alguém que só na idade adulta ouviu pela primeira vez o idioma que nessa linguagem se vasou». Alexandre Pinheiro Torres in Jornal de Letras e Artes, 1962
Foi lançado na Alemanha em 1989, juntamente com O Mundo em que Vivi.