Poema Cinza o corpo escreve-se com vime. e fica, depois do instante, a arborizar o vento. talvez a água antes do eclipse. abre-se como um mapa por onde os riachos empardecem. vincos, nós, odor a cisco sob a canícula. ou espuma também? toda a terra é memória, lugar à margem, horizonte oscilando no tempo enquanto os pássaros revoam. enreda-se na ferida das cidades e talha as casas, já o mundo arde num navio de cores. vara, por último. negrilho, por exemplo. bordão encurvando para a cinza. em redor, outras tardes. tardes ao pé da porta, quem sabe. tardes, moscas, pedras. um jeito de harpa a quebrar-se. e nenhuma música mais. música nenhuma, não.