O que resta a um homem que ao acordar percebe que já não compreende o mundo em que vive? Um homem que não quer fazer parte de uma família sem presente; a quem custa viver numa sociedade em crise e não se revê nas suas memórias…
Só lhe resta procurar o seu destino e apostar na solidão e na imaginação que todos os homens ainda têm dentro de si, mesmo quando tudo parece sem sentido. Esta é a história de um homem que quer viver num país diferente e que é obrigado a partir para o encontrar.
A história de um homem que não aceitou a realidade
O romance A Sereia Muçulmana recebeu o Prémio Literário Alves Redol por narrar «uma viagem ao interior de uma consciência num original que se destaca pela qualidade da sua escrita, pela capacidade efabulatória e pela destreza com que articula as várias peças narrativas que vão estruturando a obra».
EXCERTO:
«Nunca vi as pessoas que me rodeavam preocupadas com a violência e só houve um momento em que essa situação se verificou, no tal dia do atentado dos aviões. Nesse momento, que a princípio até pensei que seria mais um documentário, observei que a atenção das pessoas estava concentrada nas televisões que existiam em vários locais do hospital. Que acompanhavam a repetição das imagens do primeiro avião a embater numa das torres e, do espanto, ao verem em direto um outro avião explodir contra a segunda torre. Quando os dois edifícios ruíram, até gritos ouvi por parte dos que observavam as imagens no hospital e durante todo o resto do dia não havia outro tema de conversa que não o deste ataque terrorista. Nesse dia ninguém me deu importância e só quando, ao fim da tarde, alguém ficou preocupado com o efeito que estas imagens poderiam ter na minha recuperação, é que se espantaram com a minha reacção ao dizer-lhes que, depois de tudo o que vira a humanidade fazer nestas últimas décadas, até me admirava que uma tragédia destas ainda não tivesse acontecido.»