Bruscamente, a partir de um «facto mediático» que se tornou ou foi tornado num «facto político», ressurgiu na sociedade portuguesa o interesse por um homem e um tempo que, nos últimos trinta anos, tinham sido mais objecto de «black-out», «lenda negra» ou puro estudo académico: Salazar, o seu pensamento, a sua governação, a sua obra - o Estado Novo. É nesta conjuntura que a Verbo reedita a antologia organizada por Mendo Castro Henriques e Gonçalo de Sampaio e Mello do pensamento político de Salazar, desta vez prefaciada por Jaime Nogueira Pinto. Este é, essencialmente, um pensamento pensado e, sobretudo, expresso em tempo de acção, perante as etapas concretas da governação do Estado e do país e as crises que foi tendo que enfrentar e resolver: a solução do problema das finanças, a institucionalização do Estado Novo, a ameaça da oposição e sua tentativa de reconquista do poder pela força. A partir de 1936 e até 1945 são os tópicos da política exterior, o labirinto espanhol e a guerra europeia. Depois são as primeiras investidas da oposição com o MUDJ, Norton de Matos, Delgado. E, em 1954, com a Índia, começa a ofensiva internacional contra Portugal. Apesar do seu ocasionalismo e pragmatismo, o pensamento de Salazar é um pensamentopolítico elaborado, com substância no conteúdo e elegância de forma e estilo. É sobretudo um pensamento extremamente coerente, que não se contradiz. Que repousa, em grande parte, na trilogia - Deus, Pátria, Família; que para Salazar e na sua aplicação político-social significava religião católica, nação portuguesa, ordem social tradicional.