Gustavo Miguel Dias é um realizador de cinema, já entrado nos anos, sem a menor vocação para o cinema e que passou anos e anos a intrujar-se a si próprio e aos espectadores. Vive agora com a irmã Marta, uma professora universitária que escolhera o campo depois de uma depressão causada pelo divórcio. Já sem grandes ambições para si própria, a única preocupação de Marta é o futuro do seu filho Cláudio, um moço de expedientes a delapidar a juventude. Gustavo podia fazer um pequeno catálogo das mulheres que tinha tido, mas outro ainda maior das que o tinham rejeitado, conseguia ser uma alma compassiva e comovida, mas não era capaz de perdoar as rejeições acumuladas ao longo da vida. A ligação com Maria Alfreda percorrera toda a escala de sofrimentos e vexames, num desgaste constante, que o havia esgotado, para corresponder às suas paradas e evitar sentir-se diminuído ao lado dela. Partilharam momentos de amor, de raiva, de luta, de ironia, de crueldade, de arrebatamento e regelo naquela sala de tons magenta, num conchego alcatifado, a um tempo tranquilizador e abafadiço. São duas personagens que, à semelhança de todas as outras, ao longo do romance, manifestam um desaire em relação ao tempo vivido, convivem com projectos falhados.