Descemos a escada. Gino tinha passado o braço em torno da minha cintura e beijávamo-nos em cada degrau. Creio bem que nunca ema escada foi descida tão devagar. No rés-do-chão, Gino abriu uma porta disfarçada na parede, e estreitando-me e beijando-me sempre conduziu-me à cave. Já era noite: estava tudo às escuras. Sem acender a luz, ao longo do corredor, muito abraçados e de bocas unidas, chegámos ao quarto de Gino. Ele abriu, entámos, e ouvi-o fechar a porta atrás de nós.
Numa época de dificuldades generalizadas, qual será o destino de uma rapariga pobre, muito bela, e cujos atributos físicos são elogiados pela própria mãe, como um meio igual a qualquer outro para ganhar a vida? A Romana, por Moravia em 1947, numa época em que a Itália do pós-guerra vivia ainda uma situação de extrema penúria, é a descrição pormenorizada da queda anunciada de uma jovem, que no entanto conserva dentro de si, através de todas as vicissitudes que a vida a força a enfrentar, uma surpreendente pureza de alma. Dos ateliers de pintura, onde serve de modelo, aos pequenos esquemas deprimentes em que pouco a pouco se envolve com homens de toda a espécie, Adriana, a quem nada é poupado, não esquece todavia o seu desejo de uma vida mais convencional que possa, de algum modo, transfigurar-se graças ao amor.