“Roma: quatro letras extraídas da lotaria da História. E todos esses grandes sábios que se debruçaram sobre mim, uns declarando-me fêmea, loba ou prostituta, outros dizendo que devia o meu nome ao macho fundador que delimitou o meu terreno. Eu não dizia nada, naturalmente, mas nem por isso deixava de ter as minhas próprias ideias sobre o assunto. No pequeno jogo fastidioso da busca da verdade, desejava-lhes, evidentemente, o maior prazer, e não interferia. Afinal, eu vivera, meu amor, como tu, como todos nós – uma vida, toda uma vida e nada mais”. Por que não tomaria a cidade de Roma a palavra num romance? Afinal os animais fazem-no nas fábulas. E pode esperar-se que uma cidade tenha tanto para nos dizer como a maior parte dos homens. De resto, cansamo-nos de tudo, inclusive de sermos eternos. Acontece que Roma tenha momentos de ausência. E então passam-se coisas estranhas: Audrey Hepburn retoma férias romanas, Mussolini o serviço e as feras saltam de novo na arena do Coliseu. Quando o tempo sai dos gonzos, não resta aos homens como às cidades senão tentarem sair dele: chama-se a isso amor.