A inconfundível "arte literária" de Fernando Assis Pacheco, uma das mais singulares e lamentavelmente pouco estudadas deste nosso tempo português, é transversal. Quero eu dizer: tem características largamente comuns na "prosa dos seus versos" e na prosa da sua ficção, das suas crónicas, mesmo dos seus textos mais retintamente jornalísticos, incluindo as entrevistas que, neste volume, começam a ser coligidas e editadas. Há em tudo o que o autor de Memórias do Contencioso escreveu uma marca pessoalíssima. Ele é, por um lado, a atenção às pessoas, o vivíssimo olhar miúdo, capaz de ver as coisas sob um ângulo diferente, a ternura disfarçada de ironia, o humor sempre inteligente e arguto. E ele é, por outro lado, uma escrita extremamente saborosa e colorida, em simultâneo solta e rigorosa, leve como espuma e certeira como seta no alvo.