Estamos perante a primeira obra de uma autora portuguesa, cujo nome é sem dúvida a reter, pela rara qualidade do seu discurso ficcional. Sobre um fundo onde se cruzam várias décadas do Portugal deste século, a autora cria uma verdadeira polifonia textual que envolve múltiplas vozes narrativas, num encadeamento que tem tudo de encantatório, movendo-se entre a memória e o sonho, e por vezes avizinhando-se da loucura, sem no entanto perder a referência do real. O texto apresenta-se-nos assim como uma labiríntica teia onde a história se vai decifrar, por entre o que emerge como expressão de algo informe e puramente pulsional, e o confronto com a extrema violência do vivido.