«Falar do escritor é talvez falar de Maynard», escreveu Dinis Machado sobre si próprio na Nota dos Editores à primeira edição deste Requiem Para D. Quixote. Na altura, ele dirigia a colecção de policiais onde o livro saiu e foi precisamente um tal acaso da vida que o levou a escrever, de um fôlego e por necessidade, os três livros que a Assírio & Alvim agora reedita.
Fazer uma nota de editor sobre si mesmo era mais uma piscadela de olho ao leitor mais atento. Piscadela que, claramente, não funcionou. Vinte anos depois um leitor atento dar-lhe-ia os parabéns pela excelente tradução dos livros.
Mas, se falar do escritor Dennis McShade é falar de Maynard, não é preciso esticar muito a lógica para concluir que, então, falar de Maynard é falar de Dinis Machado. E, na verdade, são os seus livros e os seus filmes, as suas músicas e os seus fantasmas, o seu bairro e as suas lealdades, que dão corpo e voz aos monólogos maynardianos. Prelúdio que antecede em dez anos esse outro longo monólogo que revolucionou a literatura portuguesa e que se chama O Que Diz Molero.
Se o primeiro Mão Direita do Diabo teve, desde 1967, duas edições para o público em geral e outra em edição de clube, este Requiem Para D. Quixote e o próximo Mulher e Arma Com Guitarra Espanhola mantinham-se, até agora, praticamente esquecidos no limbo do tempo. Uma lacuna da História que a Assírio & Alvim tem agora o privilégio de colmatar. Não só para honrar a memória de um dos maiores escritores portugueses, mas sobretudo para prazer dos leitores que, há quarenta anos, esperavam por esta oportunidade de os lerem pela primeira vez.
«Se continuas a beber, então o azul fica negro, já sabes que o sentimento é daltónico, que ao fim e ao cabo tens de matar Big Shelley e que a grande chatice é ele ter o nome de um poeta.»
(Dos monólogos maynardianos)