Tomando a problemática do enquadramento jurídico, constitucional e penal conferido à religião durante a Monarquia Constitucional, este estudo detém-se na complexidade da penetração, por um lado, e na emergência, por outro, de um processo de diferenciação religiosa com as implicações que tal acarreta para um país - uma nação - que se entendia como católica e, por razões diversas, passa a confrontar-se com a possibilidade de outros referenciais identitários por parte dos seus membros, dos seus cidadãos. Como o demonstra a autora, este processo, occorendo através de uma disputa religiosa, não se confina a um simples afrontamento entre catolicismo e protestantismo, mas implica a possibilidade da coesão social integrar distintas formas de se entender a verdade, a autoridade, a liberdade e a consciência de discernimento.
Este trabalho, considerando o primeiro fluxo protestante no seio da sociedade portuguesa contemporânea, não se reduz à descrição desse processo, mas remete para a compreensão do conjunto da realidade portuguesa nesse período correspondente à passagem da confessionalidade constitucional à separação entre as Igrejas e o Estado, pelo menos na sua formalidade jurídica.