De seguida, fechou os olhos por vinte longos minutos, tocou com a bengala dele no meio das costas e arrancou duas asas cor de vidro. A bengala de kituta (porque os anjos parece não se servirem de bengala) tocou na reentrância das minhas omoplatas, onde o Kangrima enraizou as duas asas. Uma calada dor me formigou a carne nessa operação a sangue-frio. Eram asas transparentes, cristalinas. Tinham aquela textura diáfana das asas das cigarras que faziam sinfonia com o vento entre as copas das casuarinas da floresta da Ilha de Luanda.
As mentes dos súbditos do Reino das Casuarinas eram cascas vazias de cigarras coladas nos troncos das árvores coníferas. Por vezes, um fiozinho de vento da memória penetrava essas cascas e a reminiscência de um canto ecoava no seu bojo. Cada um morava no seu próprio exílio interior.