A voz íntima de Pedro Fontes, criado do infante D. Manuel, guia-nos em A REDENÇÃO DAS ÁGUAS pelos anos de 1742 a 1750, momento em que Portugal se vê preso nas angústias do rei absoluto e magnânimo, de súbito consciente da sua mortalidade física. À voz de Pedro junta-se a de Sara, filha ilegítima do rei. Foi aliás na vila das Caldas, também ela personagem maior, que D. João V reconheceu, a 6 de Agosto de 1742, os seus três filhos ilegítimos, todos de freiras do convento de Odivelas. O terror da morte, que, como diz o narrador, «retira todo o sentido à forma cuidadosa como vamos organizando a vida, com total desprezo e insensibilidade por títulos, precedências e protocolos», não impede um amor que parece abrir um rio de possibilidades. Uma época fascinante deixa-se desenhar com rigor histórico pelo fio da narrativa como se de um quadro se tratasse, uma pintura capaz de incluir o perfume do barro e dos veludos.