Em tempos de ditadura, uma criança ousou enganar a PIDE.
Na década de 1960, numa pequena vila alentejana, quatro amigos encontram-se secretamente para jogar à sueca, comer, beber e ouvir a Rádio Moscovo e a BBC. Zé Maria, Carapau, Tonico e Martinho Lutero discutem política, gastronomia, mulheres e a vida.
Sem que o saibam, há um espião que regista tudo o que dizem, pondo o grupo em perigo. Tudo num tempo em que a ditadura, abalada por uma guerra colonial e pelas tentativas de derrube do regime, começa a apertar o cerco com a ação dos informadores e dos agentes da PIDE.
Quando os amigos afixam um cartaz do Movimento de União Democrática na vila, com vista à sua participação nas eleições - uma farsa da ditadura -, pagam o atrevimento com uma proibição dolorosa. Mas isso irá desencadear a improvável resposta de uma criança ao estado de medo e de obediência a que o País foi subjugado ao longo de décadas.
O Rapaz Que Venceu Salazar é um romance pleno de humor e de ternura sobre a vivência da ditadura e da Guerra Colonial numa pequena vila do interior alentejano. Fala sobre as criativas formas da subversão possível de quem nunca se rendeu. É também a interrogação de uma geração sem saudosismos nem ilusões sobre o testemunho que deixou desse tempo e sobre o tempo que lhe sucedeu.
Jacinto F. Matias capta magistralmente o espírito de uma época numa história com ecos de policial, em que os pequenos eventos e a vida quotidiana de uma vila perdida no mapa se tornam grandiosos. Este romance tece assim um retrato sobre a amizade e a dignidade, mas também celebrando aqueles que, anónimos, e arriscando perder tudo, tentaram ser livres.