Entra-se num livro pela literatura, normalmente é assim, mas no caso do Alexandre Andrade as coisas complicam-se bastante. Além de Proust e Beckett, somos agraciados com naturezas-mortas e retratos, Charpentier e John Coltrane, Tondela e Paris, baguetes e bolas de berlim, luvas de pelica e gatos, Godard e (sem nunca ser mencionado) o espírito arisco de Jacques Rivette. O cheiro do café com bolos quentes antecipa-se ao efeito da escrita; dir-se-ia que a vida chega em primeiro lugar, e é juvenil e doce. As histórias crescem com delicadeza, as personagens envolvem-se em peripécias afáveis e levemente misteriosas, os gatos perdem-se e encontram-se — enfim, nos Quartos Alugados respira-se uma atmosfera botânica. Roubando as palavras a uma das personagens: é tudo ao mesmo tempo conceptualmente simples, fértil e profundo.