«Foi isto que este presidente malévolo nos fez a todos – transformou-nos em saqueadores e despiu homens adultos da sua dignidade enquanto se digladiam por um pneu de bicicleta usado ou outros bens irrelevantes. Reduziu-nos a bandoleiros e a ladrões, tornou-nos pequenos, tristes, velhos e cansados. Fez-nos perder o amor pela vida. Separou as famílias e deixou os meus pais pobres, solitários e amedrontados.»
Peter Godwin
Conhecemos já todos, minimamente, a situação do Zimbabué com uma inflação de 7500%, sujeito ao regime ditatorial de Mugabe ferozmente repressivo, corrupto e arbitrário. O que o relato de Godwin nos traz de novo é o quotidiano numa economia à beira do colapso e perante uma repressão sem lógica ou sentido. Como sobreviver quando uma ida à padaria representa um gasto de 12 000 dólares (do Zimbabué), meio quilo de carne de porco custa 4000 dólares e um selo de correio 19 000? Como sobreviver quando não se sabe bem quando haverá gasolina e quanto tempo durará o fornecimento de electricidade? Debatendo-se para apoiar os pais que envelhecem acossados pela pobreza e a insegurança, constantemente sujeitos a assaltos e agressões sem sentido, este é o relato ímpar de um homem de origem inglesa que nasceu no Zimbabué, que considera ainda a sua terra Natal.