Comendo a Sopa
Subitamente, aparecem no televisor bolas de luz sobre a cidade nocturna, de onde sobem ao céu girândolas delirantes de cor acompanhadas de ruídos cavernosos.
Empoleirada na sua cadeira alta, a criança esquece a colher de sopa que levava sem jeito à boca e, de olhos deslumbrados, alonga o dedito, grita alegremente:
-Festa!
À sua beira, num cadeirão almofadado, com a manta pelos ombros, o velho resmunga:
-Guerra...
Desliga o televisor. E, com mão ossuda e trémula, sombrio, sem mais palavra, recomeça a comer vagarosamente a sua malga de sopa.
Altino Tojal