Álvaro de Campos, a personagem mais activa, interventiva e penetrante criada por Fernando Pessoa, foi a única que deixou uma prosa (até 2012 amplamente inédita) de uma dimensão idêntica à que se encontra no «Livro do Desassocego» (publicado em 1982). Daí que a publicação da «Prosa de Álvaro de Campos» se possa considerar um acontecimento editorial tão relevante quanto a primeira publicação do «Livro do Desassocego» há exactamente trinta anos. Afinal, a prosa tardia de Campos é contemporânea da prosa tardia do Livro e ambas foram escritas pelo mesmo autor quando este havia já atingido um raro domínio da sua arte. Para mais, foi o próprio Pessoa quem afirmou que o seu semiheterónimo Bernardo Soares se assemelhava em «muitas coisas» ao seu heterónimo Álvaro de Campos. Neste sentido, a presente edição da prosa reunida de Campos vem lembrar, mais uma vez, que Pessoa continua inédito, embora seja esta uma realidade que ainda hoje nos espanta, quer por não a imaginarmos possível, quer por a desconhecermos por completo.