A realidade judaica portuguesa das primeiras décadas do século XX teve duas fortes vertentes, a Comunidade Israelita de Lisboa e a chamada “Obra do Resgate”. Também o sionismo passou por Portugal, com os projectos de colonização judaica de Moçambique em 1903 e o de Angola em 1912/1913. Nenhum deles vingaria. Ao contrário do século XIX, as primeiras décadas do século XX português foram marcadas pela emergência de um anti-semitismo ideológico, protagonizado por correntes nacionalistas. O seu arauto maior foi António Sardinha, que propunha que a “raça Lusa” se defendesse da miscigenação de que fora vítima pela influência negra e judaica, sugerindo, em prosa e em verso, a acção de uma nova Inquisição purificadora. Foi em pleno regime republicano que emergiram à luz do dia das conservadoras terras interiores das Beiras e de Trás-os-Montes as comunidades marranas.