Comecei a segui-la como quem segue um cicerone numa cidade estrangeira.
E era verdade.
Eu estava numa cidade que me era estrangeira e aquele corpo guiava-me como uma bandeira, levava-me por um território não conquistado.
Ela trazia uma blusa negra e calças encarnadas, o que ajudava a distingui-la, a saber que era ela.
Persegui-a de longe, a uma distância que julguei segura.
Eu estava entretido a olhar para uma montra na Rua da Cedofeita quando, sem saber porquê, me virei e a vi.
Pequenas coisas mudam o mundo.
Vi-a já de costas.
Tinha o cabelo curto, andava de uma maneira peculiar.
Eram duas horas da tarde de uma terça-feira, ela era o íman, eu a limalha de ferro.
Ela seguia por ruas que eu desconhecia, eu aproveitava a boleia.
Depressa reparei que também ela não devia ter que fazer.
Parava para ver uma montra, entrou em duas lojas só por entrar, deu uma volta ao mercado, subiu uma rua que depois desceu.
Eu ia com toda a atenção para não a perder, mantendo a distância que julgava suficiente para que não se sentisse seguida.
Nunca lhe vi a cara.
A certa altura perdia-a e senti o coração bater mais apressado.
De repente, saiu por uma porta mesmo ao meu lado?