«Porto Manso é a abalada para o Norte. Já se inferira da obra anterior que regiões diferentes implicavam regimes diferentes de propriedade, logo mentalidades diversas. Alves Redol parte para o Douro, estagia largamente no Pinhão, faz percursos de rabelo, rio abaixo rio acima toma parte nas lides, aprofunda o viver das gentes, torna-se no duriense que precisava também de ser para nos dar Porto Manso e os três romances do ciclo Port-Wine. Alves Redol faz situar cronologicamente Porto Manso entre 1939 e 1943 ou 1944. O romance conta-nos a história do arrais António do Monte, homem de quarenta e dois anos, filho e neto de arrais. Alves Redol nunca esquece nos seus livros que o mundo que descreve é um labirinto subterrâneo escavado por toupeiras — os usurários — que, à mínima contrariedade, podem fazer desabar uma superfície aparentemente calma de ervas sossegadas, mimos da horta ou milharais alourados pelo sol. Em Porto Manso, quer os arrais queiram quer não, a terra é sempre o valor último. Antoninho do Monte conta com as suas chãs para prolongar o «vício» do rabelo. Com elas pode recorrer à Usura. Porque se o capitalista lhe empresta dinheiro, não será para ficar com barcos, como acontecia em Avieiros, mas para apanhar as terras dos seus proprietários. Os milhanos estão sempre à espreita como em Gaibéus, e «seus Emílios» há-os em todos os rincões — os mais escondidos do mundo concentracionário do Capitalismo». Alexandre Pinheiro Torres