Cada vez mais os indivíduos da sociedade contemporânea, dividida entre a fragmentação e a globalização, precisam redescobrir as suas raízes e retomá-las de forma não passadista, mas sim renovadora e criativa.Esta obra, baseada na Tese de Doutoramento em Literatura Portuguesa defendida por Maria da Natividade Carvalho Pires na Universidade de Coimbra, é a primeira Tese apresentada nesta Universidade cujo enfoque é a Literatura para a Infância e Juventude, como "pedra-de-toque" da renovação da Literatura Tradicional. O estudo de diferentes percursos do texto tradicional, conduzindo a diversas reelaborações na literatura contemporânea, levou a autora a analisar as obras de escritores muito distintos. Questões globais de interpenetração entre Oralidade e Escrita e entre memória colectiva e criação individual, fizeram-na caminhar, entre outros, por Almeida Garrett, José Régio, José Gomes Ferreira, António Torrado e Alice Vieira, os mais destacados, sendo os seus textos analisados em confronto com um alargado corpus de contos tradicionais, o que permite verificar as potencialidades significativas destes últimos ao nível ideológico, didáctico, lúdico, simbólico. A possibilidade da existência de situações híbridas e de mudança de estatuto dos textos são questões que a teorização literária actualmente contempla, permitindo este estudo ilustrar a fluidez das fronteiras do campo literário, onde se inclui a ambiguidade das relações entre Literatura Tradicional, Literatura Culta e Literatura Infantil e a própria ambiguidade de cada um destes conceitos. Analisa-se, assim, a forma como se refaz o tradicional na época do esbatimento de fronteiras culturais, na sequência das transformações sociais, políticas, económicas e tecnológicas.