Quem suponha que a elaboração de sistemas objectivos de classificação botânica é exclusiva das sociedades ditas desenvolvidas, aqui poderá constatar o contrário. Os nalu, no sul da Guiné-Bissau possuem uma ciência e técnicas de utilização do universo vegetal que inclui aplicações na construção, na medicina, nas relações sociais e no folclore. Através da descrição e análise das relações dos homens com o universo vegetal envolvente, este livro mostra como a natureza é material e simbolicamente apropriada naquela cultura africana dos nalu.
A abordagem do modo como as plantas são pensadas e manipuladas nas práticas sociais quotidianas e nos momentos rituais permite entender a importância de cosmologias e concepções médicas, mágicas e ambientais que garantem a continuidade num contexto pós-colonial marcado por mudanças sociais e económicas decorrentes da progressiva mercantilização e por alterações religiosas advindas da islamização.
O relato etnográfico apresentado estende-se igualmente ao universo das crianças e aos processos de compreensão e transmissão dos conhecimentos sobre a natureza, e é complementado por um estudo aprofundado das variações individuais, de acordo com o género, a idade e as experiências escolares, nas formas de classificar as plantas.
As plantas são por isso um "pretexto" para examinar diferentes tópicos relevantes da reflexão antropológica contemporânea e, antes de mais, para entender os "pecadores" (homens, de acordo com o termo crioulo).
Plantas e "Pecadores" de Amélia Frazão-Moreira