"Entre o corpo-capital de certas prostitutas «de luxo» dos países do Norte e o corpo-mercadoria das prostitutas «da miséria» dos países do Sul e do Leste, nunca foi tão grande o risco de se ver desenvolver, um pouco por todo o planeta, um turismo sexual de massa. Hoje em dia, o turista sexual só tem o embaraço da escolha. O mercado amplia-se e diversifica-se: uma internacionalização da oferta, com corpos cada vez mais jovens, inteiramente disponíveis, nos quatro cantos do globo.
Turisticamente falando, um país vende-se melhor quando vende bem as suas mulheres. A mulher fantasiada começa por ser vendida em quadricromia nas capas das brochuras para entusiasmar o viajante, antes de ser (re)vendida no seu lugar de existência ou sobretudo de trabalho. Hipocrisia de um sistema de valores baseado no consumo de bens com exagero, um sistema em que «tudo é negócio» e onde os bens a consumir são seres humanos.
Metamorfose do capitalismo selvagem, o turismo sexual prospera sobre as ruínas das desilusões do «desenvolvimento» e do «progresso» e assemelha-se frequentemente a uma invasão do Sul pelo Norte. Ele permite aos ocidentais que, aqui ou ali, perderam a batalha da colonização, restabelecerem posições firmes nas suas antigas (e novas) possessões, com uma conquista em vista: a dos corpos."