“Pina Bausch via mais, ouvia mais e sentia mais. E a delicadeza, humildade e intensidade com que o fazia, despertou nos bailarinos e no público uma reacção semelhante na intensidade. Estimulados por ela, vimos mais, ouvimos mais e sentimos mais. Coisa cada vez mais rara numa sociedade onde a apatia se instala com facilidade frente ao televisor ou ao ecrã do computador e onde o convívio da diferença, de cultura e de personalidades dentro de cada cultura, é uma riqueza que existe sem que lhe demos o devido valor. E ela viu isso em Lisboa. Está em Masurca Fogo, como repara Gil Mendo. E em Lisboa, as pessoas continuam a cruzar-se com a diferença sem executar o movimento de aproximação e de encontro, de troca, de convivência, de partilha. Enquanto os dias correm demasiado depressa, cada vez vimos menos, ouvimos menos, sentimos menos. Não era esse o programa de Pina Bausch. E por isso também, mas não só, o seu tempo em cena era diferente do tempo dos dias rápidos. E por isso em cena, mas não só, os olhos se fechavam, não para verem menos, mas para sentirem mais e observarem mais profundamente o que sentiam.”
Claudia Galhós