Se, em Magistério e Desgosto, Leonel Brim nos deu uma obra recheada de perversas ironias, neste Os Pés do Cordeiro, o autor dá-nos uma gargalhada gritada, ou um grito gargalhado, que fica a ecoar muito para além do momento da leitura. Ri melhor aquele que ri de si próprio.
Portugal. Um novo regime político debate-se com uma velha nação. Uma nação cheia de vícios de funcionamento. Os cidadãos desta Pátria ressentida digladiam-se com frases feitas (anexins-ladros) vendidas a bom preço. Os ideais parecem ter-se esboroado com a passagem dos anos de juventude. Instalados na vida, os que antes falavam de mudança adaptaram-se à existência do disfarce: novas palavras para velhos negócios, velhos pensamentos e velhas cobardias. Aspirados pelo seu umbigo, a fatalidade do quotidiano fossiliza-os numa estufa onde só as obsessões pessoais são oxigénio essencial — comida e sexo, sexo e comida. E muita raiva pelo passado que não se torna a repetir, e pelo futuro que lhes parece cada vez mais finito.