«A temática abstracta do Tempo é, desde sempre, de ordem cosmológica, e o discurso de que releva ou que exige, de carácter científico, de Platão e de Aristóteles até Galileu, Newton, Einstein e à ciência mais actual. Esse tempo, no sentido próprio, cósmico, aquele onde nunca como "indivíduos", a bem dizer, existimos, que de algum modo já nos viu morrer antes de nascermos, não é aquele onde o sentido da nossa existência — da nossa existência pessoal ou da humanidade a que pertencemos — nos "interpela" e a que só nós mesmos podemos dar resposta. Para mim, foi o tempo incarnado, o que mal ou bem chamamos História, como se fôssemos o dono dela, que, desde jovem e para sempre, me foi a figuração real, objectiva, da mítica Esfinge. Carlos Câmara Leme compreendeu perfeitamente que era nesse "tempo com História", nós como História, que residia o enigma vivo em que banhamos e, no sentido mais literal e incandescente da palavra, "ardemos".» In Prefácio de Eduardo Lourenço