Segundo uma tradição antiga, é judeu simplesmente quem se sente judeu e é verdade que por vezes me sinto judeu.
Que quero eu dizer com isso?
É demasiado difícil de responder.
É no fundo – e peço já desculpa de assim me exprimir – qualquer coisa de inefável, um mistério.
Mas também há indícios mais racionais: não houve livro que escrevesse em que não houvesse pelo menos uma história com personagens judias; o Holocausto é o acontecimento histórico que de longe mais me perturba, mais me fascina e me deixa perto da loucura; os acontecimentos na Palestina, vivo-os com uma intensidade não de quem está de fora, mas como se fosse uma parte visada, lá tivesse gente próxima de família, de um lado e de outro, obrigado a fazer qualquer coisa, nem que seja escrever.
Talvez porque um sentimento de culpa me invade do qual nem a origem conheço mas que tenho de combater.
Como se me sentisse responsável.