Há escritores assim: qualquer que seja o domínio literário eleito, as declinações praticadas - Índias, Brasis, Europas -, transportam consigo uma aura de segurança e uma capacidade de questionar que nos instala em zonas de desamparo e topografia incerta onde não há lugar para o conformismo. É esta inquietude que com o poeta aqui se passeia pelas cidades de uma Europa onde sopra hoje o vento de um capitalismo do descartável. Ao poder do vil metal e à cultura do efémero e da grande amnésia contrapõe este livro de poemas a memória literária e o valor de uma herança cultural europeia que a escrita poética de José Jorge Letria continua a trabalhar com aquele fulgor que acende os nossos dias.