A descoberta de um retrato daquele avô cuja história a família sempre encobriu - Mateus Mateus, o gigante de olhar estranho que partiu, no contingente português, para a Flandres durante a Primeira Guerra Mundial - é o pretexto que a narradora encontra para, simultaneamente, escrever um romance e se afastar de um casamento que parece condenado ao fracasso. Para saber mais sobre o passado desse desconhecido, parte, também ela, para a propriedade de La Peylouse, em Saint-Venant, que alojou o Estado-Maior português nos anos 1917-1918 e da qual o avô, depois de ter servido na frente como maqueiro e coveiro, foi enviado numa missão de espionagem, acabando prisioneiro dos alemães. No bizarro hospital onde passa os meses que antecedem a batalha de La Lys (o mesmo onde virá a ser internado um cabo alemão chamado Adolf, atacado de cegueira histérica), Mateus Mateus cruza-se com figuras inesquecíveis: Alvin Martin, um inglês albino dado às premonições; Hugo Metz, o médico que usa métodos de inspiração freudiana para interrogar os pacientes; o órfão Émile Lebecq, pequeno ladrão e ilusionista amador; e, sobretudo, Georgette Six, a bela enfermeira francesa que perdeu o noivo na guerra e pela qual o português se tornará um homem diferente. E, porém, à medida que a neta de Mateus Mateus vai desfiando essa história - num jogo em que a realidade se torna indestrinçável da ficção -, também a sua vida é sacudida por uma paixão - e só o encontro com Cyril Eyck e o seu bisavô centenário trará a chave para os enigmas do próprio romance.