Ela nunca havia reparado no Café. Como terá sido possível? Tão perto da Faculdade...
Mas agora tinha transposto a entrada, e todos os seus poros se sobressaltaram com a magia inebriante e rara que se desprendia daquele lugar; subitamente, a luz refractara-se e comunicava aos objectos uma beleza rarefeita.
Sentiu a atmosfera impregnada de um mistério onírico quase insondável, perturbador; invadiu-a um desejo imperioso, concupiscente, de o desvendar.
Que lugar era aquele? Outro tempo? Uma outra dimensão?
Começou a observar os ocupantes das outras mesas, numa dança surrealista de olhares que se cruzam, prendem trespassam. Abissais.
Não compreendia a sua telepatia involuntária, essa capacidade de devassar, impune, o espaço sagrado de tantas intimidades.
Não desejara aquilo, e, no entanto, não sabia resistir-lhe.
Obcecados, os seus passos dirigiam-se, dia após dia, para o Café, para aquele espaço onde, sabia, poderia encontrar-se ou perder-se, irremediavelmente.
Penetrara no outro lado da vida, das vidas de todas aquelas personagens que lhe invadiam a alma com o peso quase insustentável com que o destino as fulminara.
Soçobraria?
De alguma forma essa deixara já de ser a questão principal.
Um admirável primeiro romance, profundo e misterioso, que introduz o nome de Maria Teresa Loureiro no universo das letras portuguesas.