«Mas vamos a isto sobre o que sou. Pélago sou, pélago sou, pronto, pélago sou. Fundo, rochedo, caverna, areia grossa. Esverdeado por cima, por baixo, até por dentro. De algas. De que havia de ser senão de algas. Mas sobretudo sou água. Como se torna evidente. Sou dela pressa e cadência, agitação, nervo e audácia, cheiros, sabores e música. Com ela vou tocando os azuis que há e sobretudo são. Tocando o céu? Tocando. Mas nem sempre. Há muito céu cinza. Azul vem mais da água, é mais a água, pelo menos, assim é a minha água mãe. Lá no mundo outro, para onde a minha pobre fantasia, já lá vão quase oitenta anos, constantemente me transporta, (digo pobre fantasia porque ganhou cama, assumiu rotinas, partiu as asas, poucas vezes se embebeda, pudera, são tão poucos, os azuis aí disponíveis, um horror) é que se convencionou que a água não tem cor. Não tem cor… Enfim, estas e outras oiço eu a toda a hora, nesse tal mundo outro que, afinal tem nome.» Não merecia mas tem. Chama-se Realidade Sensorial. Assim mesmo.»