A candidatura de Norton de Matos à presidência da República contra o candidato da Situação, Óscar Carmona, foi, a vários títulos, notável. Mobilizou dezenas de milhares de portugueses em manifestações públicas a favor de um candidato que afirmava publicamente, com o seu prestígio de general, republicano e colonialista, estar há 22 anos em oposição ao regime de Salazar e não pensar noutra coisa que não fosse “fazê-lo desaparecer para sempre” do seu país. Constituiu uma pedrada no charco das “eleições” presidenciais até então realizadas sob o Estado Novo, obrigando as hostes salazaristas a uma mobilização acrescida, face à presença inaudita de um candidato alternativo, congregador de praticamente todos os sectores da oposição, mesmo estando as regras do jogo eleitoral viciadas a favor da Situação. Passados que são 60 anos sobre as eleições presidenciais de 13 de Fevereiro de 1949, trazemos a lume uma série de investigações, quase todas inéditas, permitindo juntar neste livro os avanços historiogáficos mais recentes sobre a candidatura oposicionista. Como factores de análise temos a mobilização dos diversos sectores oposicionistas, como o Partido Comunista, a reacção da oposição exilada, a ampla participação feminina e a mobilização local em torno da candidatura, temas aos quais se junta, em forma de entrevista, o testemunho de um destacado apoiante do general. Último grande fôlego da oposição na década de 40, as eleições presidenciais de 1949 marcam ainda, simbolicamente, o fim da primeira grande crise do regime, abalado pelos ventos democráticos trazidos pela 2.ª guerra mundial.