No espaço da pintura portuguesa - pensando-o aqui exactamente nessa mesma acepção em que se diz espaço da língua portuguesa - Noronha da Costa ocupa um lugar duplamente singular. Esse lugar advém-lhe, desde logo, do facto de não pertencer a nenhuma tradição propriamente plástica e, muito menos, portuguesa. O seu único antecedente legítimo, nela, seria talvez o grande António Carneiro, artista que foi igualmente órfão no espaço da nossa cultura.O seu lugar é singular, depois, pelo facto de essa obra sua, que pacientemente construiu ao longo de mais de três décadas, ter organizado um vocabulário de imagens tão pessoal e exaustivo que nenhuma outra pintura portuguesa feita depois - com a única excepção de Lourdes Castro cujos temas, por vezes, são afins das duas obras - se lhe pode aparentar.