Filho pródigo à casa retorna, segundo reza o adágio. Este retorna atrasado, filho ingrato que não enterra pai nem mãe, ave migratória que rumou a outras paragens fugindo da «pátria madrasta», amada e odiada, e acaba a evocar memórias de amigos, amores, familiares, de camaradagem e de guerra, ruminando o sentimento da perda e das outras dimensões do possível numa noite escura prenhe de fantasmas especulares. O olho é o símbolo das visões, tão presentes e perdidas e inalcançáveis, que serão cristalizadas através do dom poético de que o protagonista é dotado e espelhadas na trama. Este, em suma, o tema do novo livro de José Jorge Letria que tem por cenário uma época de aspirações idealistas contra um Portugal salazarento, terreno propício para confrarias entre trovadores inconformados como Zé Mário Branco, Zeca Afonso, ou Adriano Correia de Oliveira, e outros, quando se procuravam modelos para a revolução intestina, fosse em Moscovo, Tirana ou Pequim, e se demandava a imensa arca perdida da Liberdade.